sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Corpos

..............................................por Arnaldo Luiz Ryngelblum
Corpos
Corpos extenuados, esfaimados
Esparramados nos desvãos das cidades ou
Prostrados nos barracões dos holocaustos
Consomem-se pela fome, sede, violência
Da ignorância, da indiferença e da dissimulação

Corpos dourados ou bem cuidados
Consomem-se pelo consumo
Refugiam-se em cada vez mais novos modelos
Isolam-se protegidos pelas cercas e blindagens
Na indigência, na impotência e na indignidade

Homens à volta reclamam sua atenção,
Sua solidariedade e envolvimento
Que o afastamento incentiva a exclusão
Sabendo que não há alívio no isolamento
Sabendo que não há alegria sem compartilhamento

domingo, 7 de dezembro de 2008

MINHA PAZ

..................................................por Francisco M. C. Dias

Passam brumas, vento, brisa;

Passam garoas, chuviscos, tempestades;

Passam lembranças de tempos idos.

Passam águas claras, rasas de luz;

Passam pinheiros, bromélias refletidas.

Passam o dia, o sol. Sabiá canta, enche o vale.

Passam a casa, adega, o sótão;

Passam das paredes o cheiro úmido.

Passam formigas no jardim fincando folhas;

Passam os besouros que brotam do estrume.

Passam os murmúrios das águas da noite.

(que dizem das coisas da noite).

Passam tuas unhas da mão em meu peito;

Passam o frio e o calor das tuas coxas;

Passa o pulsar do fogo em nossos corpos.

Só a paz, em mim, é que não passa.